Sonho de consumo do Grande Guia
19 abril, 2007Estamos na mão dos 300 do CINDACTA…
6 abril, 2007A foto oficial
5 abril, 2007Nova temporada. Novo elenco. E cada vez mais sem pé nem cabeça.
Apagão na pequena área
4 abril, 2007Anatomia do lero-lero
17 fevereiro, 2007Enquanto isso, no Museu de História Natural…
16 fevereiro, 2007Minha razão de postar
13 fevereiro, 2007Quanto aos blogs, ainda os vejo como uma plataforma da grafomania ególatra e onfalocêntrica (ônfalo é umbigo em grego).
Sérgio Augusto
Da próxima vez que virem a imagem de um feto em pleno útero, reparem no que o pequeno lay-out de gente está fazendo. Degustando o polegar? Às vezes. Praticando Kickboxing no ventre materno? Outras tantas. Mas essas atividades são meras distrações furtivas. Reparem no que ele dedica todo o tempo restante, por força de sua posição, sabiamente concebida pela natureza e pelas circunstâncias, posição esta convenientemente chamada de “fetal”. Está contemplando algo que ainda nem sequer tem, mas já sabe que será para sempre o centro de suas atenções: o umbigo.
Não é por espanto que o nascituro chora ao ser abruptamente expelido ou retirado a fórceps de seu apertado, porém limpinho, albergue uterino. Ele berra num veemente protesto por terem interrompido, sem consulta prévia, sua prazerosa contemplação do próprio baricentro. E não se lhe é dado outro meio de retaliação que não uma copiosa mijada no rosto do primeiro gaiato que lhe der um tapinha nas costas.
Claro que o homúnculo, se estiver com tudo em dia, é logo colocado junto ao colo materno e por lá encontra distrações à altura do paraíso perdido. Se o pirralho já nascer com tendências freudianas, então, nem se fala, só vai querer saber da senhora sua genitora. Mas não se iludam, superzelosas matriarcas. Em geral o moleque está a fim é de uma boa mamada, enquanto aguarda ansioso a queda do coto umbilical e a inauguração de sua redondinha cicatriz primordial. Aí sim, o Caos se desfará e o Universo entrará em seu eixo – rodopiando como um gigantesco pião em torno daquele pequeno-grande umbigo.
A evidência empírica de que, ao contrário do que pensam os norte-americanos o mundo não gira em torno da Terra (mais precisamente Washington D.C), mas do umbigo do titio aqui (para ficarmos num exemplo muito caro a mim) é inconteste. As nuvens, este rio, você, baby, a música de Billy Ekstine, o Sol e o superaglomerado de Virgo, tudo vem e vai, torna e retorna. Meu umbigo fica onde sempre esteve. Paradão. Na dele. No máximo estica quando eu como demais. Ou acumula discreta e característica felpugem quando descuido das devidas abluções. Não chega nem a ser belo, como o de qualquer valquíria praiana, mas é meu. E fica aqui. Taciturno, a meio caminho de qualquer parte de mim, de qualquer parte do Cosmos. Ou do Gozmos, como diria Walter Mercado. O onfalocentrismo não é uma teoria cosmológica, nem uma tara (não confundam com onfalossexualismo!) nem uma visão de mundo, muito menos, para simplificarmos, uma weltanschauung. É um fato da vida. Quem sou eu para ir contra?
É por tudo isso, estimado leitor deste espaço perfurocortante, que aqui estou, praticando em deslavada causa própria, em causa umbilical, uma das mais vis atividades do intelecto humano: blogando. O nomezinho infeliz do ofício já derruba qualquer pretensão de transcendência: blogueiro. Mas se lembrarmos que, nos tempos de Molière, a profissão de comediante era considerada tão infame quanto a das putas. E que hoje nunca esteve tão valorizada (tanto quanto certas putas)… Bem, talvez no futuro o blogueiro seja finalmente reconhecido como um sujeito de certo valor, de preferência na casa dos seis dígitos, com direito a acompanhante e drinque com guarda-chuvinha. Só nesses termos eu toparia me dar ao trabalho de pensar e escrever sobre qualquer outra coisa que não fosse você, meu bom e velho umbigão.